Preocupação. Está ai uma coisa que nos acompanha desde
pequenos. Nos preocupamos se vamos conseguir realizar uma tarefa, se vamos ser
sucedidos , se vamos dar conta de algo... Enfim, podemos nos preocupar com
várias coisas. Mas até quando a preocupação não se torna demais? Até quando ela
ultrapassa o nível e nos torna preocupados crônicos?
Se procurarmos por uma definição de preocupação ,
acharemos conceitos ligados a ideia fixa e antecipada (interessante perguntar
se pessoas ansiosas se preocupam mais ou pessoas preocupadas são mais
ansiosas?) que produz sofrimento, além da ideia de responsabilidade , atenção e
pensamento constante e dominante .
Quando estar preocupado passa a atingir várias
áreas de nossa vida, limitando-nos
a ponto de limitar também o nosso prazer e
satisfação, nos trazendo sofrimento diário e limitando nossa forma de ser no
mundo,podemos ligar uma luz de alerta.
Pessoas ansiosas costumam estar preocupadas grande
parte do seu tempo. A preocupação não surge como algo natural, que brota , é
refletida e deixada ir. A pessoa costuma se apegar a essa preocupação e leva-la
para todos os lugares.
Pensamentos como não quero deixar escapar
nada;se continuar pensando um pouco
mais, talvez consiga compreender; não
quero ser pego de surpresa e quero
ser responsável, podem reforçar a ideia de que devemos estar sempre pensando
nos problemas e acabam alimentando o ciclo de preocupações.
Preocupados crônicos se preocupam com situações
grandes mas também se preocupam com situações cotidianas . Ao se preocuparem
com quase tudo e terem sentimentos como ansiedade e medo, eles condicionam seus
comportamentos de evitação e fuga e continuam reforçando essa forma de ser no
mundo(vou explicar melhor mais pra frente). Uma pessoa que antes estava
preocupada, por achar que essa é a ÚNICA forma de ser, se
define como preocupado. Eu sou preocupado passa a ser a frase que o define
ao invés de estou preocupado.
A preocupação , na verdade, é uma forma de se
adaptar ao mundo em que essa pessoa vive, é uma forma de lidar com os problemas
e evitar que algo pior aconteça. Entretanto, assim como tudo na vida, usar
somente uma estratégia para tudo, de forma generalizada, se torna disfuncional.
Pessoas que estão constantemente preocupadas
costumam ver o mundo de forma pessimista, veem o mundo pelas possibilidades de fracasso,
rejeição , perigo e acreditam que suas previsões estão sempre corretas.
Por isso, eles ficam atentos a qualquer sinal de ameaça , às vezes, até mesmo
interpretando um sinal como ameaçador sem antes verificar se ele realmente é.
Crenças muito comuns para preocupados crônicos são:
- Acreditar que pensar muito sobre um problema ajuda a achar a solução.
- Acreditar que o mundo é perigoso.
- Acreditar que não consegue lidar com o mundo, nem com seus
sentimentos e pensamentos.
- Sente que se preocupar é ser responsável.
Uma coisa é certa, ao pensar
demais em um problema, deixamos de sentir. Parece lógico, mas não percebemos
que estamos pensando demais para evitar nossos sentimentos. A preocupação é uma
forma de tentar deixar somente seu lado racional agir.
Logo, existe um ganho ao se
estar preocupado e por isso a pessoa pode se manter nesse ciclo. Ao ficar se
preocupando, a pessoa "não sente" sua ansiedade, ela guarda dentro de si. Logo, a
ansiedade parece diminuir ao se preocupar. Quando ela para de se preocupar, a
ansiedade parece voltar e ela volta a se preocupar para evitá-la. Contudo, ai
está o cerne de tudo. Não é que a ansiedade volta, ela sempre esteve ali, porém
como você não quer senti-la, você a suprime temporariamente.
Repare que pessoas que estão
muito preocupadas encontram-se em estado de alerta, atentas a tudo. Isso já
demonstra que a ansiedade está presente.
Outro ganho aparente que a
pessoas preocupadas podem acreditar ganhar é o controle. Ao se preocupar, acredito
que controlo minhas ansiedades, meus medos e controlo a situação.
Essa tentativa de controle
acontece , principalmente, em consequência da
visão pessimista de mundo e das crenças negativas sobre as emoções. Ter
medo das próprias sensações e sentimentos pode te fazer acreditar que não se
pode ter, compreender ou sentir nada do que você sente. Além disso, sentir dois
sentimentos ao mesmo tempo, por exemplo, pode te deixar confuso e justamente
por fugir ao seu controle, você se preocupa.
No fim, a preocupação, que
brotou como uma estratégia de adaptação à realidade, como um tentativa de se
ter certeza sobre algo, pode te fazer sentir mais insegurança e mais incerteza
sobre tudo. Em vez de você conseguir lidar com suas emoções , você as evita e
pensa sobre elas mas não as sente. Concluindo : preocupar-se demais te prende
em um ciclo constante de preocupação , produzindo mais problemas para resolver.
Como lidar com tudo isso? Aceite que você tem sentimentos,
sinta-os, dialogue consigo mesmo para entender o que seus sentimentos querem
lhe dizer. A partir dai, pense
nas milhares de possibilidades que você pode ter, não pense somente como você
costuma pensar (imagine que essa situação ocorre com outra pessoa e como ela
poderia resolver isso). Aceite o que você pode fazer agora. Se preocupar não
irá mudar a situação.
Tenha em mente que sofremos, principalmente, porque as coisas
mudam. Mudança nos remete à incerteza, ao novo, a possibilidades.
Ao ter uma visão pessimista de
mundo, acreditaremos que a mudança trará problemas que não conseguiremos lidar.
Problemas irão surgir, isso é fato, mas como lidamos com eles e como os vemos,
fazem muita diferença. Podemos encarar o
novo como algo assustador e nos reconfortar no que é conhecido. Mas nem
sempre o que é conhecido nos faz bem. Podemos encarar o novo como uma possibilidade
de ser diferente, aprender e crescer. Podemos aprender com os nossos
sentimentos ou podemos suprimi-los porque é mais confortável no momento. Tudo
são escolhas que fazemos , mas ainda sim, sempre podemos escolher diferente, sempre podemos mudar a nossa rota.
Várias informações foram tiradas do livro Como lidar com as preocupações:
sete passos para impedir que elas te paralisem você de Robert L. Leahy, editora
Artmed (2007).